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Como já diria o grande Cazuza, “o tempo não para”. Quer você queira ou não, ele está sempre correndo com toda disposição do mundo. Mas, afinal de contas…

O que é o tempo?

O tempo, meus amigos, é uma coisa estranha. Nós todos parecemos experimentá-lo da mesma forma, mas, às vezes, ele passa mais rápido para mim do que para você. Ou mais lentamente. E parece que quanto mais velhos a gente vai ficando, mais rápido ele passa.
Várias teorias tentaram explicá-lo melhor que eu. Sendo verdadeiras ou não, elas cumprem a missão de colocar uma pulga atrás na nossa orelha e nos fazer refletir por alguns instantes.

10. A Teoria de Santo Agostinho da relação entre tempo e mente

tempo o que e
O filósofo cristão Santo Agostinho acreditava que o tempo não era absolutamente infinito. O tempo era, segundo ele, criado por Deus, e era impossível criar algo que fosse infinito.
Ele também disse que o tempo existe somente em nossa mente, tirando a conclusão bizarra de que tudo tem a ver com a forma como nós interpretamos essa grandeza.
Podemos dizer que algo durou “muito” tempo ou “pouco” tempo, mas Santo Agostinho dizia que não há nenhuma maneira real de quantificar isso.
Quando algo está no passado, já não tem quaisquer propriedades de ser alguma coisa, porque esse algo não existe mais, e quando dizemos que alguma coisa levou muito tempo, é só porque nós estamos lembrando dela dessa forma. Uma vez que só medimos o tempo com base em nossa percepção dele, então só deve existir em nossas cabeças. O futuro ainda não existe, de modo que não podemos ter quaisquer quantidades mensuráveis dele.
A única coisa que existe é o presente (e isso é um conceito complicado ao qual nós vamos chegar em um minuto).

9. A topologia do tempo

o que é o tempo
Com o que o tempo parece? Se você tentar imaginar o tempo, você vai vê-lo como uma linha reta que dura para sempre? Ou você o entenderia como uma espiral, que dá voltas e mais voltas sem parar?
Antes de você fritar seus miolos tentando descobrir uma resposta, vamos economizar seu tempo: obviamente, não há nenhuma resposta certa. Mas há algumas ideias intrigantes sobre esse desafio.
Segundo Aristóteles, o tempo não pode existir como uma linha, pelo menos não uma com um começo ou um fim, mesmo que provavelmente tenha havido uma época em que, bem, o tempo começou.
Para que haja um momento no tempo quando ele começou, tem que haver alguma coisa antes que tenha marcado seu início. O mesmo vale para o fim dos tempos, segundo ele.
Há também o problema de quantas linhas de tempo existem. Será que existe uma linha do tempo em que tudo se desloca junto, ou existem várias linhas de tempo que se cruzam alternadamente ou correm paralelas umas as outras? Ou o tempo é uma única linha com um monte de galhos? Ou, ainda, será que existem momentos nessa tal corrente que existem independentemente de outros momentos?
Há uma abundância de opiniões, nenhuma exata.

8. A Teoria do Presente Ilusório

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A ideia dos presentes ilusórios lida com a questão de quanto o tempo presente realmente dura. A resposta habitual, que diz algo sobre ele ser o “agora”, não é muito descritiva. Por exemplo, quando estamos no meio de uma conversa com alguém e estamos no meio de uma frase, o início da frase já é passado, mas a conversa em si ainda está ocorrendo no presente.
Então, quanto tempo o presente realmente deve durar?
E. R. Clay e William James se referem a esta ideia como o presente especioso – ou seja, o espaço de tempo que nós percebemos como presente. Eles sugerem que esse momento pode ser tão curto quanto alguns segundos e, provavelmente, não mais do que um minuto. De qualquer forma, eles chamam de “presente” a quantidade de tempo da qual estamos imediatamente conscientemente.
Dentro disso, ainda há um pouco de espaço para discutir. O presente poderia, teoricamente, ter algo a ver com quanto tempo de memória de curto prazo uma pessoa tem. Quanto mais tempo ela tem, maior é o presente para ela.
Há também a ideia de que isso é apenas uma questão de percepção instantânea, e o segundo é passado e você está confiando em sua memória de curto prazo, um momento que já não é uma parte do presente.
Depois, há o problema do presente e algo de um presente prolongado, que é onde o presente ilusório entra. O presente não deve ter duração de tempo real, porque se tivesse, parte desse tempo estaria no passado e parte no futuro, contradizendo a si mesmo. Assim, o presente ilusório tenta explicar o presente como um intervalo de tempo que tem duração, ainda que seja uma coisa separada da presente objetivo.

7. Pessoas baixinhas experimentam o “agora” mais cedo que as outras

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Parece estranho, mas faz sentido. Esta teoria foi apresentada por um neurocientista chamado David Eagleman, e é chamada de “ligações temporais”. Ela é construída em torno da ideia de que nós experimentamos o mundo em pacotes de informações que são recolhidos pelos nossos sentidos e processados no cérebro.
Diferentes partes do corpo, mesmo que recebam essas informações ao mesmo tempo, demoram ligeiramente diferentes quantidades de tempo para levá-las até o cérebro.
Digamos que você está trocando mensagens de texto com alguém, e você bate a cabeça em um poste ao mesmo tempo em que chuta uma pedra. Em teoria, as informações recolhidas de seu ferimento na cabeça vão chegar ao seu cérebro mais rápido do que a informações de dor enviadas pelo seu dedo do pé, mas você acha que as sente ao mesmo tempo.
Isso porque existem certos padrões cerebrais para uma espécie de organograma sensorial que coloca as coisas em uma ordem que faz a gente sentir as coisas em escalas. Esse atraso no processamento de informação é o que faz as pessoas mais baixas sentirem o “agora” um pouco mais cedo.
Uma pessoa mais curta, digamos assim, realmente vivencia uma versão mais precisa do tempo, porque há menos atraso na transmissão de informações para o cérebro.

6. O tempo está ficando mais lerdo – e nós podemos perceber isso

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Um dos problemas de longa data da física tem sido a existência de energia escura. Nós podemos ver seus efeitos, mas ainda não temos ideia do que ela seja exatamente. Uma equipe de professores da Universidade do País Basco, em Bilbao, e da Universidade de Salamanca, na Espanha, têm sugerido que todos os nossos esforços para encontrar e definir a energia escura tem sido em vão, simplesmente porque ela não existe.
Em vez disso, dizem eles, todos os efeitos da energia escura podem ser explicados pela ideia alternativa de que o que estamos realmente vendo é tempo diminuindo sua velocidade, e se preparando para uma eventual parada.
Veja, por exemplo, o fenômeno astronômico de desvio da luz para o vermelho.
Quando vemos estrelas que têm um comprimento de onda de luz que é vermelho, sabemos que elas estão acelerando. O grupo de professores espanhóis está agora tentando explicar o fenômeno da aceleração do universo como sendo o resultado não da presença de energia escura, mas simplesmente de uma ilusão criada pelo tempo em processo de desaceleramento.
A luz leva uma boa quantidade de tempo para chegar até nós. Conforme o tempo passa, ele vai ficando mais lento, fazendo com que pareça que tudo está se acelerando para longe.
O tempo é extremamente lento, mas, dada a vastidão do espaço, é ampliado através da quantidade incompreensível de distância, o que significa que podemos ver isso quando olhamos para as estrelas.
Eles também dizem que, gradualmente, o tempo vai continuar a diminuir até que simplesmente pare completamente. O universo irá congelar para toda a eternidade.
Mas não se preocupe, estamos a salvo. Isso só acontecerá a milhares de milhões de anos de distância, e a Terra já não estará por aqui.

5. O tempo simplesmente não existe

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Quando a gente não consegue explicar alguma coisa, essa parece a resposta mais fácil. Mas, na verdade, existe um raciocínio bem interessante por trás dessa afirmação.
Ela foi colocada no mundo pela primeira vez no início de 1900 por um filósofo chamado J. M. E. McTaggart. De acordo com McTaggart, existem duas maneiras diferentes para analisarmos o tempo.
A primeira, chamada de Teoria A, indica que o tempo tem uma ordem e flui ao longo de um caminho; nesta versão do tempo, é possível organizar as coisas conforme elas acontecem. Há uma progressão de eventos do passado para o presente e futuro.
Já uma Teoria B, por outro lado, afirma que a passagem do tempo em si é uma completa ilusão, e não há nenhuma forma de atribuir objetivamente uma ordem particular para as coisas que acontecem.
Esta versão do tempo é aparentemente apoiada por nossas memórias, que tendem a recordar eventos aleatoriamente. Levando essas duas teorias em conta, o filósofo entende que o tempo não existe. Para que ele exista, seria necessário que houvesse uma mudança contínua nos eventos, no mundo ou nas circunstâncias. As teorias A e B, por sua própria definição, não são uma referência para a passagem do tempo, e não há nenhuma mudança compreendida por elas. Portanto, o tempo não existe.
Se a Teoria A sozinha for correta, isso também sugere que o tempo não pode existir. Vamos pensar por exemplo no seu 1º aniversário. Em algum momento, este foi um evento no futuro, mas agora só existe no passado. Como um momento não pode ser passado, presente e futuro, McTaggart diz que a teoria é contraditória e, portanto, impossível, como qualquer ideia de tempo.

4. Teoria da 4ª dimensão e universo em bloco

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A teoria da quarta dimensão e a teoria do universo em bloco estão relacionadas com a ideia de tempo como uma dimensão real.
Na quarta dimensão, todos os objetos (obviamente) existem em quatro dimensões em vez de três, e a quarta dimensão, o tempo, pode ser pensada em termos das outras três dimensões.
A teoria do universo em bloco imagina o universo inteiro como sendo um bloco dimensional feito de fatias de tempo. Ele tem largura, profundidade e altura. Todo e cada evento tem uma duração mensurável, sendo que existem camadas de tempo que formam seu todo.
De acordo com essa teoria, cada pessoa é um objeto quadridimensional que existe em camadas de tempo. Sendo assim, existem camadas de tempo para a primeira infância, infância, para a adolescência, e assim por diante.
Sendo assim, essa teoria entende que o tempo, sozinho, não existe. Mas sim que há um passado, presente e futuro, e cada ponto dentro do bloco é qualquer uma dessas três coisas em referência a outros pontos do tempo.
A teoria do universo em bloco também deixa espaço para a ideia de tempo infinito, passado e futuro, dizendo que o bloco dimensional pode se estender até o infinito em qualquer direção.
Isso não deixa espaço para uma mudança no futuro, uma vez que a ocorrência dos eventos no bloco de tempo já existe, e o que chamamos de futuro já foi decidido.

3. O tempo não tem “velocidades”

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Ocasionalmente, ouvimos histórias de pessoas que estão em uma situação de risco de morte ou de muito medo – e elas juram que o tempo está ficando mais lento. Muitas vezes isso acontece quando somos confrontados com uma grande decisão, ou quando algo completamente inesperado acontece.
Esse é um fenômeno tão difundido que tem havido muita discussão sobre se estamos permitindo o tempo ir mais devagar para termos mais tempo para processar todas as informações com que estamos sendo confrontados.
Os pesquisadores tentaram entender o que significaria. De acordo com eles, nós poderíamos ser capazes de ver as coisas com uma qualidade maior, e seriamos capazes de escolher mais detalhes conforme as imagens passassem por nós.
O cérebro tende a misturar estímulos conforme as coisas acontecem, de forma que as informações são recebidas com menos de 80 milissegundos de intervalo. Portanto, se o tempo se desacelera, a expectativa é que a gente passe a reconhecer estímulos como eventos separados.
Após vários experimentos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que uma experiência que “desacelera” o tempo sugere que não é o momento que está passando mais devagar para nós, mas sim a nossa lembrança dele.

2. Khronos, Kronos e o pai do tempo

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Antes de filósofos gregos pensarem sobre como explicar o tempo, havia uma explicação mitológica que incluía a figura do chamado “Pai do Tempo”. Antes que houvesse qualquer coisa, havia os deuses Khronos e Ananke.
Khronos era o Deus do Tempo, e era imaginado como parte homem, parte leão e parte touro. Uma figura fascinante, certamente.
Ananke, uma serpente enrolada em torno do ovo do mundo, era tida como um símbolo da eternidade.
Khronos também aparece na mitologia greco-romana, onde representado dentro da roda de um zodíaco. Como essa roda está desgovernada pelo tempo, ele pode ser jovem ou velho.
Khronos era o pai dos titãs e é muitas vezes mencionado como sinônimo de Kronos, que também foi associado com o tempo. Kronos foi o responsável por castrar seu pai, e mais tarde seria morto por seu próprio filho, Zeus.
Khronos também era responsável pela progressão do tempo através das estações e ao longo dos anos, desde o início, mas as coisas que aconteceriam com homens e mulheres dentro desse tempo eram comandadas por outra figura.
Nós geralmente nos referimos ao tempo por meio de coisas que acontecem conforme ele vai passando. Nós crescemos e, em seguida, nos tornamos velhos. Este ciclo de vida do homem não foi dominado pelo Deus do Tempo, mas sim por Moirai. Klotho girou o fio da vida, começando o ciclo para todos. Lakhesis mediu por quanto tempo o ciclo duraria, enquanto Atropos cortaria o fio. O Moirai iria predizer eventos futuros, bem como o que o destino já havia escrito.

1. Nós não somos bons em perceber o tempo

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O tempo parece ser uma questão subentendida por todos. Ele é o que ele é. Mas a grande verdade é que ele quebra as nossas cabeças nos primeiros segundos de discussões sobre temas como a física do espaço, dimensões e todos os assuntos periféricos possíveis.
Nós não somos realmente nada bons em falar sobre o tempo, no entanto, temos parâmetros para medi-lo e prová-lo.
Por um lado, há um tempo sideral, que é o tempo medido pela colocação das estrelas e da rotação da Terra. Isso, obviamente, varia um pouco, por isso temos também o dia solar. Ele é baseado na quantidade de tempo que a Terra leva para fazer uma única rotação sobre o seu eixo, que também é bastante variada.
É por isso que, para contar um ano solar, precisamos da média do comprimento das rotações para chegar com o nosso sistema de tempo.
No começo do século 20, porém, cientistas e astrônomos descobriram que a rotação da Terra estava ficando mais lenta. Eles criaram o tempo das efemérides para cobrir possíveis variações, mas esse parâmetro foi extinto em 1979.
Em seguida, houve o tempo dinâmico terrestre, que foi mais preciso. Esta métrica foi interrompida em 1991, quando foi renomeado tecnicamente para “tempo terrestre”.
Se você acha que se manter a par de fusos horários parece complicado, você é inocente e não sabe de nada. Ainda hoje, as posições das estrelas e outros corpos solares são usadas em conjunto com o tempo dinâmico terrestre, mas como o resto do mundo está no padrão de tempo universal, é preciso haver uma maneira de converter os dois para que todos se localizem.
Em resumo, nós simplesmente não temos ideia do que fazer com o tempo, mesmo sendo escravos dele todos os dias. Até a questão mais simples relacionada com essa variável é uma grande incógnita, capaz de dar um nó cego nos cérebros mais inteligentes.[listverse]
Desde que a igualdade no casamento se tornou um tema nacional de conversa, temos ouvido muito sobre o “casamento tradicional”. Para as pessoas que são contra os gays se casarem, parece haver essa ideia de que, se pudéssemos simplesmente continuar com a mesma maneira como as pessoas se casavam nos dias antigos, tudo estaria bem com o mundo.
O problema é que a maioria de nossas suposições sobre como o casamento era no passado são erradas.
*Antes de começarmos essa lista, vale a pena lembrar que o casamento é uma coisa cultural, que muda de acordo com tradições e locais. A maioria dos itens dessa lista se concentra no mundo ocidental, porque é onde o Brasil se encontra. Devido a colonização europeia, também é essa a nossa influência. Os índios nativos da região nem sequer se casavam e muitas tribos eram poligâmicas.

5. As pessoas não se casavam super jovens

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Você já deve ter ouvido a ideia conservadora de que você deve conhecer o seu futuro esposo ainda na escola e se casar no máximo quando terminar a faculdade. Apesar das coisas estarem mudando, ainda há quem ache que ter 21 anos, mas não ter um namorado é “ficar pra titia”.
Além disso, muitos assumem que todos os nossos antepassados se casavam muito jovens. Em parte, isso é influenciado pelos famosos casamentos históricos entre a realeza.
O casamento real certamente sempre foi diferente do resto da população. Ainda crianças, príncipes e princesas praticamente já sabiam que tinham apenas dois ou três potenciais companheiros com os quais poderiam se casar. Isso porque eram geralmente usados como moeda de troca em tratados ou alianças. Assim, em torno da puberdade, fazia sentido do ponto de vista político já “empurrá-los” para alguém.
No passado, mesmo quando as pessoas se casavam jovens, muitas vezes não viviam juntas, e certamente não tinham relações sexuais por muitos anos.
Em geral, a idade de casamento na Europa Ocidental tem permanecido constante. Registros ingleses a partir de 1600 mostram que as noivas tinham entre 23 e 24 anos e os noivos 26 e 27. Quando colonos na América começaram a se casar um pouco mais jovens, isso foi considerado bastante estranho. A idade de casamento na América logo voltou para o padrão normal e, em 1890, a maioria dos casais se uniam na metade ou fim dos 20 anos novamente.
Embora tenha havido circunstâncias extremas onde crianças no final da adolescência começaram a se casar regularmente – como após a Peste Negra e na Segunda Guerra Mundial, por conta de uma dizimação da população -, em geral, as pessoas sempre tentaram adiar este compromisso ao longo da vida até que estivessem realmente prontas.

4. Os casamentos eram curtos

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Hoje em dia, o grupo demográfico com maior probabilidade de se divorciar são casais que estão juntos há mais de 30 anos. Por que é que os nossos antepassados poderiam ficar juntos por toda a vida, mas hoje as pessoas são tão determinadas a cair fora de seus relacionamentos?
Pensamento errado. As pessoas sempre caíram fora de seus relacionamentos.
Primeiro porque no passado as pessoas morriam mais cedo. Muitos casamentos não duravam mais de 4 a 12 anos, porque alguém já estava apodrecendo no chão nesse ponto. Quem sabe quantos desses casais iriam querer se divorciar depois de 30 longos anos juntos, ouvindo as mesmas histórias chatas?
Aliás, não era preciso esperar 30 anos. Casais não eram obrigados a ficar em casamentos infelizes. Não sei porque as pessoas entram em pânico sobre como o divórcio vai arruinar a sociedade, se tem sido quase sempre legal no mundo ocidental. Na Grécia e Roma antigas, o divórcio era permitido. O mais famoso divorciado de todos os tempos é Henry VIII, cuja PRIMEIRA separação (de muitas) ocorreu em 1534. John Milton, poeta inglês famoso, também escreveu quatro livros sobre como o divórcio era nos anos 1640.
Nos Estados Unidos, o censo de 1870 revelou um elevado número de divórcios. Por volta de 1920, era algo tão comum que a sociedade estava convencida de que o casamento em breve seria uma coisa do passado. E aqui estamos, quase 100 anos mais tarde, ainda querendo amarrar nossos burrinhos (mas soltá-los quando for conveniente).
No Brasil, em 1827, com a proclamação da independência e a instauração da monarquia, o casamento permaneceu sob influência direta e incisiva da Igreja. Apesar do divórcio só ter sido instituído oficialmente em 28 de junho de 1977, desde o Brasil Império (1861) a Igreja Católica foi obrigada a se flexibilizar, começando por passar a autoridade civil o ato de julgar a nulidade do casamento. Isso significa que, ainda que não houvesse o rompimento do vínculo matrimonial, desde essa época era possível a “separação de corpos”.

3. Famílias sem um pai ou mistas sempre foram normais

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Todo esse divórcio e mortes significava que, no passado, muitas pessoas encontravam-se na faixa dos 20 e 30 anos solteiras, mas com filhos. A maioria queria se casar novamente. Por isso, famílias mistas sempre foram comuns.
Alguns historiadores pensam que padrastos e enteados eram quase mais comuns do que famílias originais no período medieval tardio. Mesmo terceiros casamentos não eram raros, e enteados eram considerados tão filhos de uma pessoa como seus próprios entes biológicos. Isso não significa que todos os novos casamentos eram rosas, claro. A ideia da “madrasta má” remonta a, pelo menos, Roma Antiga.
E, se os montes de viúvos não escolhessem casar de novo, criavam seus filhos sozinhos. Outro problema supostamente “moderno” que vai arruinar a próxima geração – pais solteiros – é na verdade algo que sempre existiu.
Os gays são os principais alvos dessa ideia ridícula de que todas as crianças precisam ser criadas por uma mãe e um pai ou de alguma forma vão se ferrar. De acordo com estes argumentos, os viúvos deveriam ser obrigados a se casar novamente. Aliás, de acordo com esse pensamento, muitos de nossos antepassados foram ferrados. Nos velhos tempos, você poderia considerar-se sortudo se atingisse a idade adulta com ambos os pais ainda vivos. Mesmo em 1900, um quarto das crianças perdia um pai antes de completar 15.

2. Procriação nunca foi o único objetivo do casamento

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Um dos argumentos das pessoas que são anti-casamento gay é que o casamento serve apenas para o propósito de ter filhos. Desde que leva um óvulo e um espermatozoide para fazer um bebê, a conclusão dessas incríveis mentes é de que o único tipo aceitável de casamento é entre um homem e uma mulher.
Pessoas muito mais inteligentes têm apontado o quão ridículo é esse argumento. E casais em que um dos parceiros é infértil? Ou casais em que a mulher passou pela menopausa? Esses casamentos também são totalmente inválidos?
Aliás, mesmo em casamento entre homens e mulheres totalmente férteis, os casais têm tentado impedir a vinda de bebês desde a aurora dos tempos.
Na Idade Média, alguns levavam isso ao extremo. Homens e mulheres católicas podiam entrar em “casamentos josefitas” onde viviam juntos como marido e mulher, mas nunca faziam sexo.
E aqueles que queriam fazer sexo sempre buscaram alguma forma de controle de natalidade. Nos casos mais tristes e extremos de um passado sem muitas tecnologias nessa área, esse controle envolvia “acidentalmente” matar um bebê recém-nascido.
Conforme a passagem do tempo, as famílias foram tendo cada vez menos filhos (ou até mesmo nenhum) e o planejamento familiar foi se tornando muito importante – visto que ninguém parou de fazer sexo.
Enquanto países mais desenvolvidos como os EUA e grande parte do mundo ocidental já tinham decidido diminuir consideravelmente o tamanho de suas famílias em 1860, o Brasil demorou um pouco mais para ver essa mudança. Suas grandes transformações sociais ocorreram no século XX. Antes de 1970, o número médio de filhos por mulher estava acima de 6, mas depois caiu para menos de 2 filhos.
De qualquer forma, não significa que só recentemente os casais pararam de ter como objetivo principal procriar – só significa que agora temos melhores meios de controlar ou impedir nascimentos indesejados, e conforme a população fica ciente desses meios, escolhe se prevenir.

1. Casamento gay sempre existiu

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Ser gay não é uma nova moda. Os gays sempre existiram e se relacionaram, mesmo que não tivessem se casado ou você nunca os tivesse visto antes.
O casamento gay não era incomum na Roma Antiga; o imperador Nero casou publicamente pelo menos dois homens. Durante a dinastia Ming na China, não era incomum que homens mais velhos se casassem com homens jovens e os trouxessem para suas famílias como “genros oficiais”.
Enquanto o cristianismo sempre desaprovou o casamento de homens, no passado haviam maneiras de contornar esse tabu. A Igreja Ortodoxa e Católica ambas permitiam uma espécie de “união de irmãos” em que dois homens solteiros (totalmente héteros, claro, uhum) participavam de uma cerimônia oficial dizendo a todos como eram bons amigos e iriam viver e orar juntos, de uma forma totalmente decente.
As mulheres solteiras que viviam juntas sempre foram mais aceitas, mas isso não significa que tentavam esconder sua relação. No final de 1800, algumas relações entre mulheres eram chamadas de “casamentos de Boston” nos EUA. Em pelo menos um caso, Sylvia Drake e Caridade Bryant foram consideradas uma “família” sob a lei para fins fiscais. Na Espanha, em 1901, Elisa Sanchez Loriga fingiu ser um homem para se casar com Marcela Gracia Ibeas. Apesar disso, depois que foram descobertas, seu casamento não foi anulado.
Ou seja, por mais que você queira dizer que o casamento gay é impensável, a verdade é que as pessoas só começaram a se incomodar com isso no passado recente (na mesma época em que adquiriram gosto por controlar a vida dos outros e o que eles fazem na cama, mesmo não tendo nada a ver com isso). [Cracked, UFRJ, JusBrasil]

Fonte: Hypescience
casamento gay mapa mundo
No final da semana passada, a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos fez com que o país norte-americano se tornasse o 23º do mundo a reconhecer o casamento homossexual como legal em todo seu território. (Isto é, se a gente considerar o Reino Unido, onde o casamento gay é legal em todos os lugares, exceto na Irlanda do Norte.)

Mapa mundial do casamento gay

O parlamento holandês legalizou o casamento gay na Holanda em 2000, mas a maioria dos outros 19 países desta lista só seguiram esse incrível exemplo nos últimos anos. A Irlanda, em 2015, foi o primeiro país a legalizar o casamento gay através de uma votação popular.

A lista abaixo foi compilada pelo Centro de Pesquisas Pew e está em ordem alfabética, relacionando os países e o ano em que o casamento gay foi reconhecido legalmente.

País/ ano em que o casamento gay foi legalizado

  1. Argentina – 2010
  2. Bélgica – 2003
  3. Brasil – 2013
  4. Canadá – 2005
  5. Dinamarca – 2012
  6. Inglaterra (Reino Unido) – 2013
  7. Finlândia – 2015
  8. França – 2013
  9. Guiana Francesa – 2013
  10. Groenlândia – 2015
  11. Islândia – 2010
  12. Irlanda – 2015
  13. Luxemburgo – 2014
  14. México – 2015
  15. Países Baixos – 2000
  16. Nova Zelândia – 2013
  17. Noruega – 2009
  18. Portugal – 2010
  19. Escócia (Reino Unido) – 2014
  20. África do Sul – 2006
  21. Espanha – 2005
  22. Suécia – 2009
  23. Estados Unidos – 2015
  24. Uruguai – 2013
  25. País de Gales (Reino Unido) – 2013
No México, a Suprema Corte decidiu que as leis locais que proíbam o casamento entre homossexuais eram inconstitucionais. Embora a decisão não ataque automaticamente essas leis, casais gays podem exigir seus direitos, e fazer com que os tribunais inferiores sejam obrigados a conceder a união. É uma área cinzenta na constituição do país, mas os ativistas ainda defendem que o casamento gay seja considerado legal em todo o país.[qz]

Fonte: Hypescience
k-bigpic
Mesmo entre os estudiosos da física quântica, a Interpretação dos Múltiplos Mundos (ou, como também é conhecida, “Teoria dos Universos Paralelos“) tem poucos defensores (18% dos participantes de uma enquete recente feita pela Universidade de Viena, Áustria). Contudo, ela não deixou de intrigar centenas de pesquisadores desde sua publicação, em 1957.

Mundo quântico

De acordo com os princípios da mecânica quântica, a matéria em nível molecular se comporta de maneira “curiosa” (pelo menos em comparação com os modelos da física clássica): não é possível ter certeza sobre a posição de uma partícula no espaço, e o mero ato de observá-la interfere em seu comportamento. Nessa escala, o universo é imprevisível.

Na década de 1950, o estudante de física Hugh Everett III entrou em contato com a mecânica quântica, lendo a respeito de cientistas como Niels Bohr, Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger. Anos mais tarde, publicou sua tese de doutorado, “Quantum Mechanics by the Method of the Universal Wave Function” (“Mecânica Quântica pelo Método da Função de Onda Universal”), na qual defendeu, basicamente, que os princípios da mecânica quântica não afetam a matéria apenas em nível molecular, mas em escala macroscópica também.
Para ele, não se podia separar essas duas realidades, já que um universo ordenado não poderia conter elementos indeterminados.

O Postulado de Everett

De acordo com os princípios da mecânica quântica, o ato de observar um objeto quântico faz com que ele deixe o estado de incerteza e passe a existir em um único ponto – como ocorre no famoso caso do gato de Schrödinger. Everett defendia que isso ocorria em nível macro e, ainda, que a observação não fazia com que as outras possibilidades deixassem de existir: elas ocorreriam, mas em realidades alternativas.
O universo, nesse caso, seria composto por intermináveis linhas do tempo em que “todas as possibilidades” ocorreriam de alguma maneira – contanto que não contrariassem as leis da física. Como estaríamos “isolados” em uma dessas linhas, teríamos a impressão de que apenas ela existe.

Objeções

A interpretação de Everett não foi bem recebida por seus colegas (e nem pelo público em geral), e ele acabou largando a pesquisa em física e se tornando consultor.
Uma das principais objeções é a de que viola o princípio da conservação da energia (de onde viria a energia necessária para que os infinitos “mundos” existissem?). Além disso, seus parâmetros foram considerados muito vagos, e a teoria daria margem a conclusões absurdas – a cada vez em que você faz uma aposta, pelo menos uma “versão” sua vai ganhar, por exemplo.
Outro questionamentos são: o surgimento de novas linhas inclui mudanças intelectuais e emocionais? Existe uma linha em que Richard Dawkins é religioso e o papa é ateu? Existe uma linha em que o técnico do Corinthians é torcedor fanático do Palmeiras?
O principal problema é que a interpretação de Everett não pode, a princípio, ser testada, uma vez que as diversas realidades estariam isoladas umas das outras. [io9, Quantum Physics]

Fonte: Hypescience
emanharamento quantico
Físicos e matemáticos têm buscado uma Teoria de Tudo que unifique a relatividade geral e a mecânica quântica. Enquanto a relatividade explica a gravidade e fenômenos em grande escala, tais como a dinâmica das estrelas e das galáxias no universo, a mecânica quântica explica fenômenos microscópicos em escalas subatômicas e moleculares. Agora, cientistas afirmam ter encontrado uma resposta que pode levar a essa teoria universal e mostrar de onde surgiu o espaço-tempo.
O princípio holográfico é amplamente considerado uma característica essencial de uma teoria universal bem sucedida. O princípio holográfico afirma que a gravidade de um volume tridimensional pode ser descrita pela mecânica quântica numa superfície bidimensional do volume envolvente. Em particular, as três dimensões do volume deverão surgir a partir das duas dimensões da superfície. No entanto, a compreensão dos mecanismos para o surgimento do volume da superfície até agora eram indefinidos.
Um novo estudo, comandado por Hirosi Ooguri, professor da Universidade de Tóquio (Japão), ao lado de colaboradores, descobriu que o entrelaçamento quântico é a chave para resolver esta questão. Usando uma teoria quântica (que não inclui a gravidade), eles mostraram como calcular a densidade da energia, que é uma fonte de interações gravitacionais em três dimensões, usando dados de emaranhamentos quânticos na superfície. É mais ou menos como diagnosticar as condições no interior do seu corpo olhando imagens de raios-X em folhas bidimensionais.
Isto permitiu aos cientistas interpretar propriedades universais do entrelaçamento quântico como condições para a densidade da energia que devem ser satisfeitas por qualquer teoria quântica consistente da gravidade, sem realmente incluir explicitamente a gravidade. A importância do entrelaçamento quântico foi sugerida antes, mas seu real papel no surgimento do espaço-tempo não estava claro até este trabalho.

Ação fantasmagórica à distância

O emaranhamento quântico é um fenômeno pelo qual estados quânticos tais como rotação ou polarização de partículas em locais diferentes não podem ser descritos de forma independente. Medir (e, portanto, agir sobre) uma partícula significa que também se age sobre a outra, algo que Einstein chamou de “ação fantasmagórica à distância”. O trabalho de Ooguri e seus colaboradores mostra que esse entrelaçamento quântico gera as dimensões adicionais da teoria gravitacional.
“Sabe-se que o entrelaçamento quântico está relacionado com questões profundas na unificação da relatividade e da mecânica quântica gerais, tais como o paradoxo das informações dos buracos negros e o paradoxo firewall”, diz Ooguri. “Nosso artigo lança nova luz sobre a relação entre o emaranhamento quântico e a estrutura microscópica do espaço-tempo através de cálculos explícitos. A interface entre a gravidade quântica e a ciência da informação está se tornando cada vez mais importante para ambos os campos. Eu mesmo estou colaborando com cientistas da informação para prosseguir esta linha de investigação adicional”, afirma. [ScienceDaily]

Fonte: hypescience
Grande parte do trabalho científico é fazer as perguntas certas. Estas perguntas vão moldando a direção da investigação, enquanto novas descobertas podem redefinir ou até mesmo mudar todas as questões propostas.
Esse processo bem-sucedido existe por mais de 400 anos. Enquanto nos ajudou a desvendar muitos mistérios do universo, algumas grandes perguntas ainda permanecem não respondidas.
Confira quatro que estão atualmente impulsionando os campos da cosmologia e da física de partículas. As duas primeiras já estão sendo abordadas por meio de experimentos em andamento, enquanto as duas últimas são questões fundamentais cuja resolução pode chegar em dias, décadas, séculos ou até mesmo nunca.

Qual é a natureza da matéria escura?

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Desde a década de 1970, sabemos que existe algo estranho chamado de “matéria escura”. Ela domina não apenas galáxias, mas aglomerados de galáxias, e é mais de 10 vezes mais abundante do que toda a matéria visível no universo.
Mas do que é feita? Sabe-se lá.
Argumentos decorrentes de nossa compreensão da origem de elementos leves no Big Bang implicam que este material não pode ser feito de matéria normal, ou seja, a matéria composta de prótons, nêutrons e elétrons, os blocos de construção de todos os átomos. Se, em vez disso, ela é feita de um tipo de partícula elementar que não interage eletromagneticamente, a matéria escura deve existir como um gás difuso ou partículas permeando galáxias, incluindo a nossa. Como resultado, não está apenas “lá fora”, está “aqui”, passando por você e por mim.
Esta possibilidade proporciona simultaneamente um desafio e uma oportunidade. Sem saber a identidade da matéria escura, as tentativas de detectá-la diretamente exigem alguns palpites sobre o que poderia ser. No entanto, há uma possibilidade de detectá-la diretamente. Tal detecção pode revelar não apenas sua natureza, mas também poderia nos dizer algo fundamental sobre partículas e forças elementares.
Hoje, há duas abordagens diferentes para detectar a matéria escura: detectores subterrâneos profundos, que esperam pegar sinais minúsculos das raras partículas de matéria escura que dispersem de um núcleo e depositem energia atômica; e a abordagem do Grande Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas do mundo, que pode recriar brevemente as condições do universo jovem, onde estas novas partículas elementares nasceram, produzindo um número suficiente delas a fim de serem detectadas em colisões.

Por que a força fraca é fraca?

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O Grande Colisor de Hádrons, naturalmente, faz mais do que procurar a matéria escura. Por exemplo, já descobriu coisas como o bóson de Higgs. No entanto, cada nova descoberta na física gera mais perguntas. O bóson dá massa a partículas que transmitem a força fraca. Isso determina a natureza da referida força. Mas por que o Higgs existe na escala que existe? Porque a força fraca é muito mais fraca do que, digamos, a força forte, e por que essas forças, incluindo o eletromagnetismo, são muito mais fortes do que a força da gravidade?
Os cientistas esperam que o acelerador lance luz sobre essas questões. E, curiosamente, a matéria escura pode desempenhar um papel nisso também. Talvez a mais interessante explicação possível de por que a força fraca é fraca postula a existência de uma nova simetria na natureza, chamada supersimetria, que prevê todo um novo conjunto de partículas elementares que ainda não foram vistas.
A mais leve destas partículas poderia ser absolutamente estável, e é uma excelente candidata para a matéria escura. Assim, se o colisor descobrir esta partícula, pode não só desvendar o mistério da matéria escura, como também lançar luz sobre supersimetria e unificar todas as forças.

O nosso universo é único?

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Talvez uma das questões mais fundamentais da física é se nosso universo é único, e se as leis da física são também únicas e fixas. Será que uma pequena mudança em apenas uma das constantes fundamentais faria tudo desmoronar?
Estas questões são bastante inacessíveis. Afinal, só conhecemos nosso universo, de modo que especular sobre outros pode parecer pura metafísica. Isto, obviamente, não impediu tal especulação.
A maioria das extensões do Modelo Padrão da física de partículas sugere que nosso universo não é susceptível de ser único. Talvez a natureza das partículas elementares e campos que observamos pode ser devido ao puro acaso.
O que torna esta questão potencialmente mais interessante é que podemos obter dicas indiretas da existência de outros universos, mesmo que nunca os observemos diretamente. Recentemente, o experimento BICEP2 no Polo Sul alegou detectar ondas gravitacionais do universo jovem. Infelizmente, parece que o sinal foi devido ao ruído de primeiro plano de nossa própria galáxia. No entanto, se experimentos futuros definitivamente detectarem esse sinal, ele poderia fornecer evidências de um processo chamado inflação. Isso, por sua vez, além de explicar muitas características do nosso universo observado em grandes escalas, genericamente cria muitos outros universos. Se pudéssemos medir essas ondas precisamente, poderíamos investigar a possível natureza da inflação e explorar a física que levou à geração de nosso universo observável e possivelmente outros.

Qual é a natureza do nada?

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Não vamos falar aqui das muitas definições controversas do “nada”. Apenas vamos nos referir a ele como o espaço vazio. Com a notável descoberta recente de que o espaço vazio contém a maior parte da energia do universo, por razões que não entendemos, esse nada ficou mais interessante.
Esta energia está causando a expansão acelerada do universo, e irá determinar o futuro do nosso universo. Há uma série de observações astrofísicas em curso tentado lançar luz sobre o mistério desta “energia escura”, como ficou conhecida, mas neste momento não estamos mais perto de compreender a sua origem do que estávamos quando ela foi descoberta pela primeira vez. É verdadeiramente a “energia quântica do vácuo”, ou é associada com algum novo campo invisível que permeia todo o espaço? Ainda, pode ser algo mais exótico.
Sem uma teoria completa da gravidade quântica, talvez fique difícil resolver totalmente este problema, coisa que pode levar séculos. Mas temos que continuar tentando. Nunca se sabe. [HuffingtonPost]

Fonte: Hypescience
Somos muito bons em destruir o nosso planeta, mas podemos fazer melhor: podemos estragar tudo a um nível solar. Veja 12 maneiras (altamente especulativas!) pelas quais poderíamos fazer alguns danos sérios, embora não intencionais, a nossa vizinhança estelar:

12. Desastre com acelerador de partículas

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Ao desencadear acidentalmente formas exóticas de matéria a partir de aceleradores de partículas, corremos o risco de aniquilar todo o sistema solar.
Mas não se preocupe – não é como se isso fosse provável. Apesar de hipóteses terem sido levantadas quando o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) foi construído, vários cientistas e o Grupo de Avaliação de Segurança do LHC concluíram que o acelerador não representa qualquer perigo.
Anders Sandberg, um pesquisador da Universidade de Oxford, concorda que um desastre envolvendo o acelerador de partículas é duvidoso, mas adverte que, se strangelets (“matéria estranha” – uma forma hipotética de matéria contendo muitos quarks estranhos pesados) fossem de alguma forma desencadeados por colisões, “seria ruim”.
Com a tecnologia atual, o LHC é incapaz de produzir matéria estranha. Porém, em algum experimento futuro, seja na Terra ou no espaço, talvez possamos produzir o material. Por exemplo, acredita-se que matéria estranha exista no interior das estrelas de nêutrons. Se tentarmos recriar as condições dos seus núcleos, tudo pode ir para o beleléu muito rápido.

11. Projeto ruim de engenharia estelar

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Nós também poderíamos destruir o sistema solar danificando severamente o sol ou sua dinâmica durante um projeto de engenharia estelar.
Alguns futuristas especulam que os humanos vão embarcar em projetos de engenharia estelar daqui milhares de anos, incluindo criação estelar. David Criswell da Universidade de Houston (EUA) descreveu a criação estelar como o esforço para controlar a evolução e as propriedades das estrelas, incluindo tentativas de prolongar sua vida útil.
Para fazer com que uma estrela queime menos rapidamente e, portanto, dure mais tempo, os futuros engenheiros estelares teriam que remover o excesso de massa (grandes estrelas gastam combustível mais rápido). Mas o potencial para uma catástrofe é significativo. Por exemplo, os esforços para remover a massa do sol poderiam criar efeitos explosivos bizarros e perigosos, ou resultar em uma diminuição de luminosidade fatal. Também poderia ter um efeito pronunciado sobre as órbitas planetárias.

10. Tentativa falha de tornar Júpiter em uma estrela

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Há uma hipótese louca de transformar Júpiter em uma espécie de estrela artificial. Mas na tentativa de fazê-lo, poderíamos destruir o planeta e acabar com a vida na Terra.
O astrofísico Martyn Fogg propôs “estrelificar” Júpiter como um primeiro passo para a terraformação dos seus satélites. Para fazer isso, os seres humanos futuros semeariam Júpiter com um minúsculo buraco negro primordial. O buraco negro teria que estar perfeitamente dentro do limite de Eddington para produzir “energia suficiente para criar temperaturas eficazes sobre Europa e Ganimedes, semelhantes aos valores na Terra e em Marte, respectivamente”.
É uma ótima ideia, se ignorarmos os seus riscos. Por exemplo, o buraco negro poderia crescer fora de controle e, eventualmente, absorver Júpiter em uma explosão de radiação que esterilizaria todo o sistema solar.

9. Estragar a dinâmica orbital dos planetas

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Se começarmos a mexer com a localização e massa dos planetas ou outros corpos celestes, como sugere a engenharia estelar, corremos o risco de perturbar o delicado equilíbrio orbital do sistema solar.
Na verdade, a dinâmica orbital do nosso sistema é surpreendentemente frágil. Estima-se que mesmo a menor perturbação possa resultar em movimentos orbitais caóticos e potencialmente perigosos. A razão para isto é que os planetas estão sujeitos a ressonâncias, que é o que acontece quando dois períodos orbitais assumem uma relação numérica simples (por exemplo, Netuno e Plutão estão na proporção de 3:2 de ressonância orbital, com Plutão completando duas órbitas para cada três de Netuno).
O resultado é que dois corpos podem influenciar um ao outro, mesmo quando estão muito distantes. Encontros íntimos regulares podem resultar no objeto menor se desestabilizando e saindo de sua órbita original, talvez até mesmo arruinando todos os objetos do sistema solar no processo.
Tais ressonâncias caóticas poderiam acontecer naturalmente, ou poderiam ser instigadas.

8. Manobra imprudente de um motor de dobra

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Uma nave espacial impulsionada por um motor de dobra seria fantástica, sem dúvida, mas também seria extremamente perigosa. Qualquer objeto, como um planeta, no ponto de destino dessa nave estaria sujeito a enormes explosões de energia.
Também conhecido como motor de Alcubierre, um motor de dobra geraria uma bolha de energia negativa em torno dele, expandindo o espaço e o tempo atrás da nave e empurrando-a a velocidades não limitadas pela velocidade da luz. Lamentavelmente, porém, esta bolha de energia tem o potencial de fazer alguns danos sérios.
O espaço não é apenas um vazio entre o ponto A e o ponto B. Em vez disso, é cheio de partículas que têm massa (bem como algumas que não têm). Estas partículas podem ser “varridas” para dentro da bolha e focadas em regiões na frente e atrás da nave. Quando o veículo desacelerar, então, essas partículas serão liberadas em explosões energéticas. A explosão pode ser suficiente para destruir qualquer coisa diretamente na sua frente, mesmo que a viagem tenha sido curta.

7. Acidente em um buraco de minhoca artificial

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Usar buracos de minhoca para contornar os limites de viagens espaciais interestelares soa muito bem na teoria, mas na prática pode abrir um buraco no espaço-tempo.
Em 2005, o físico nuclear iraniano Mohammad Mansouryar delineou um esquema para a criação de um buraco de minhoca. Ao produzir quantidades suficientes de matéria exótica, ele teorizou que poderia fazer um furo através do tecido cosmológico do espaço-tempo e instituir um atalho para naves espaciais.
Porém, como Anders Sandberg apontou, há potenciais consequências negativas desse ato. Primeiro, esses buracos de minhoca precisam de massa-energia (possivelmente negativa) na escala de um buraco negro do mesmo tamanho. Em segundo lugar, loops de tempo podem fazer com que partículas virtuais se tornem reais e destruam o buraco de minhoca em uma cascata de energia. Além disso, onde começa e termina esse buraco? Se uma extremidade for próxima ao sol, isso poderia “matá-lo”, ou, o que ainda é péssimo, esterilizar completamente o sistema solar.

6. Um erro catastrófico de navegação

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Se optarmos por mudar o nosso sistema solar de vizinhança em um futuro distante, corremos o risco de destruí-lo completamente.
Em 1987, o russo Leonid Físico Shkadov propôs um conceito apelidado de “Shkadov Thruster” que poderia literalmente mover todo o nosso sistema solar e tudo o que está dentro dele para um sistema estelar vizinho. Daqui muito tempo, isso permitiria que trocássemos um sol morrendo por uma estrela mais nova.
A configuração Shkadov Thruster é simples (em teoria): um espelho em forma de arco colossal, com o lado côncavo virado para o sol. Esse espelho seria colocado a uma distância arbitrária onde a atração gravitacional do sol fosse equilibrada pela pressão externa de sua radiação. O espelho se tornaria assim um satélite estável e estático.
A radiação solar refletida pela superfície interna curva do espelho voltaria em direção ao sol, efetivamente empurrando a nossa estrela usando sua própria luz. Pronto, a humanidade está pronta para uma fuga galáctica. E o que poderia dar errado, certo?
Claramente, muitas coisas. Poderíamos calcular mal e deixar o sistema solar perdido pelo cosmos, ou mesmo poderíamos ser esmagados diretamente contra outra estrela.
Se um dia de fato desenvolvermos a capacidade de nos mover entre as estrelas, também precisamos descobrir como manipular ou influenciar a infinidade de pequenos objetos localizados nos confins do nosso sistema solar. Definitivamente vamos ter que ter cuidado para não desestabilizar coisas como o cinturão de Kuiper ou a nuvem de Oort, ou vamos ter que nos esquivar de zilhões de cometas.

5. Receber visitas de aliens do mal

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Todos nós estamos morrendo de curiosidade para saber se aliens existem ou não, mas considere isso: todos os nossos esforços para encontrá-los, ou, pior, para atrai-los para a Terra, podem dar muuuuuito errado. Afinal de contas, quem garante que eles serão bonzinhos? Mais provavelmente, eles vão querer nos dominar. Veja aqui por quê.

4. O retorno de sondas mutantes

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Digamos que a gente envie uma frota de sondas de von Neumann (máquinas autorreplicadoras) para colonizar a galáxia. Supondo que elas possuam qualquer mínimo erro de programação, ou que alguém crie deliberadamente uma sonda que possa evoluir, essas máquinas podem sofrer mutações ao longo do tempo e se transformar em algo o qual não queremos enfrentar.
Eventualmente, nossos dispositivos inteligentes poderiam voltar para nos assombrar, rasgar o nosso sistema solar em pedaços ou sugar nossos recursos, levando-nos à extinção.

3. Desastre interplanetário do tipo gosma cinzenta

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Algo semelhante a sondas espaciais autorreplicantes, há também o potencial para algo muito menor, mas igualmente perigoso: nanobots autorreplicantes. Um “desastre do tipo gosma cinzenta”, onde um enxame incontrolável de nanobots ou micro robôs consumem todos os recursos planetários para criar mais cópias de si mesmo, não precisa ser confinado ao planeta Terra. Tal enxame poderia pegar uma carona a bordo de uma nave espacial ou até mesmo se originar no espaço como parte de algum megaprojeto, e transformar todo o sistema solar em uma gosma sem vida.

2. Superinteligência artificial querendo nos colonizar

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Um dos perigos de criar superinteligência artificial é que ela tem o potencial para fazer muito mais do que apenas extinguir a vida na Terra; ela poderia se espalhar por todo o sistema solar e além. Se forem mais inteligentes do que nós, esses “seres” saberão que podem nos dominar e se tornar os novos “reis do universo”. E sabe-se lá o que vão querer fazer com ele.

1. Acabar com o sentido do sistema solar

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No momento, somos os únicos seres vivos habitando todo o universo – pelo que sabemos. Mas podemos ser extintos, provavelmente por nós mesmos, que não cuidamos bem do nosso planeta e gostamos de travar guerras nucleares. E o que vai acontecer se a espécie humana desaparecer? Indiretamente, acabaremos com toda a graça do brilhante sistema solar, que parece de alguma forma muito especial por ter permitido a vida como a conhecemos no meio de tanto espaço vazio.




É argumentável que a filosofia nasce com o primeiro ser capaz de elaborar uma linguagem e raciocínios complexos. Como só conhecemos a espécie humana capaz de fazer tal coisa, podemos dizer, por enquanto - ao menos até descobrirmos algum outro ser capaz de tais tipos de raciocínios -, que a filosofia nasce com o ser humano. Pode parecer um pouco presunçosa essa afirmação, mas não é. Aparentemente a filosofia nasce quando o primeiro problema filosófico é formulado. Mas qual a natureza dos problemas filosóficos? Bom, podemos compreender os problemas filosóficos de dois modos.

O primeiro modo é entender que problemas filosóficos são aqueles que nós não temos a capacidade, na época que se pensa sobre esse problema, de oferecer uma resposta definitiva, uma resposta tal que sejamos capazes de averiguar se ela é verdadeira ou falsa. A peça chave para compreendermos esse modo de ver os problemas filosóficos é: um problema filosófico depende do período em que é formulado. Por exemplo, antigamente os seres humanos não tinham um método para averiguar respostas para perguntas como "como água cai do céu?", "o que é um relâmpago e um trovão no meio de uma tempestade?", "como as plantas saem da terra?", etc. Esses tipos de perguntas eram importantes para os primeiros seres humanos. Eles não sabiam responder tais perguntas haja vista que eles não tinham métodos científicos que dispomos hoje.

Desse modo, nos primórdios dos seres humanos, tais perguntas podem ser vistas como perguntas filosóficas. Eles careciam de um método para averiguar se possíveis respostas a essas perguntas eram verdadeiras ou falsas. Hoje, por outro lado, temos métodos capazes de explicar tais fenômenos e averiguar a veracidade dessas explicações. Desta forma esses problemas deixaram o campo filosófico, tornando campos separados da filosofia, que hoje chamamos de "ciência". Esse modo de encarar os problemas filosóficos permite imaginarmos que alguns dos problemas que temos hoje na filosofia podem, em um futuro, deixar de serem tratados pela filosofia. Talvez consigamos um método para averiguar a resposta de certos problemas filosóficos, tornando essas perguntas problemas centrais de outras áreas do conhecimento. Ou seja, talvez problemas atuais que temos na filosofia se tornem, no futuro, a semente de novas ciências.
Por outro lado, podemos entender os problemas filosóficos como problemas que não permitem, seja em que época for, a utilização de um método experimental para averiguarmos suas respostas. Seria da natureza dos problemas filosóficos não permitir um método experimental para respondê-los. Desse modo uma pergunta do tipo "como água cai do céu?" não era, mesmo antigamente, um problema filosófico. Tal problema permite a utilização de um método experimental para averiguarmos suas respostas. Não naquela época, pois eles não tinham, mas a natureza dessa pergunta permite tal método experimental. E é por conta da natureza da pergunta que ela não é filosófica, de acordo com essa interpretação

Deixando essa discussão aparte, nos centremos no por que a filosofia existe desde os primórdios dos seres humanos. Os primeiros registros que temos dos seres humanos os vemos criando sistemas religiosos, ou mesmo se questionando sobre a própria existência. A existência da religião em sociedades primitivas nos fornece um forte indício de que esses homens faziam perguntas filosóficas. Por que existimos? Há alguma coisa que rege o universo? Há alguma estrutura no universo além do que vemos? Esse tipo de pergunta é essencialmente filosófica. São perguntas que tanto carecem, seja naquela época ou mesmo hoje, de métodos experimentais para averiguarmos as respostas. Como eles não tinham boas respostas para tais perguntas, postular a existência de seres divinos era uma alternativa viável. Solucionava os problemas, à primeira vista. Assim nasceram as religiões, como uma explicação para problemas filosóficos.
Grécia antiga, o berço da filosofia ocidental.
Por que, então, vemos pessoas falando que a filosofia nasceu com os gregos? Bom, há melhor explicação para isso é a seguinte. Aparentemente, problemas filosóficos nasceram com os questionamentos naturais do homem, de modo que não podemos apontar um lugar onde ela teria "nascido". No entanto, a filosofia tal como vemos hoje é fruto de um certo modo de sistematizar e responder aos problemas filosóficos. Com os gregos os problemas filosóficos tomaram um corpo sistematizado. Através deles que começamos a olhar para os problemas e, a partir da natureza de cada tipo de problema, a dividi-los em grupos. Os gregos que, por exemplo, perceberam que um problema sobre a natureza da realidade é diferente de um problema sobre o modo como devemos agir. Além disso, como veremos, com Tales (considerado como o primeiro grande filósofo grego) a explicação de qual é a natureza última do universo tomou um caminho de análise tal que se diferenciava das anteriores, haja vista que não exigia mais uma explicação que recorria a existência de deuses. Devemos notar que isso não significa que Tales não acreditava em entidades místicas ou religiosas. Pelo contrário, os primeiros filósofos gregos tinham teorias extremamente místicas aos olhos de hoje. No entanto, para época em que eles viveram, dar uma explicação para tais problemas, sem recorrer aos mitos da época, era uma revolução no modo de se pensar.
Confúcio, pensador chinês do século V a.C. e considerado um ícone da filosofia oriental.
Devemos notar, contudo, que há métodos filosóficos bem particulares em outras regiões do mundo, como no oriente. Há filósofo orientais anteriores aos filósofos gregos. Todavia, a filosofia grega adotou um posicionamento e uma sistematização no método filosófico que, tal como vemos hoje, deu origem a toda tradição filosófica ocidental. Enquanto isso os filósofo orientais tanto sofreram como também tiveram fortes influências nos costumes religiosos e tradicionais das suas sociedades. Muitos deles tratavam a filosofia como um braço da religião. Os gregos, por sua vez, adotaram uma posição diferente. A religião predominante na Grécia era recheada de mitos, algo que os primeiros filósofos gregos tentaram rejeitar como respostas para os problemas filosóficos.

Do Mito ao Logos

A primeira coisa que vemos em cadernos de história da filosofia é a famosa passagem "do mito ao logos". Basicamente o que essa passagem representa é o nascimento da tradição filosófica ocidental. Como dito anteriormente, os primeiros filósofos começaram a rejeitar os mitos religiosos como respostas para problemas filosóficos. Os mitos deixaram de ser respostas plausíveis, dando lugar ao logos, ou seja, a razão. Mas, o que isso quer dizer? Os primeiros filósofos começaram a oferecer respostas que visavam ordenar o universo através de princípios básicos. Tais princípios não recorriam a mitos, no entanto eles tinham, por vezes, propriedades místicas. Assim todo o universo adquiria ordem, tornava-se um "Cosmos", um local organizado por princípios reguladores e, além disso, previsível.


Logos, do grego, significava em um primeiro momento a palavra escrita ou falada. No entanto, esse termo adquiriu outro significado com os filósofos. Assim, entende-se "logos" como a razão, a capacidade de racionalizar.

Cosmos, do grego, significa a totalidade das coisas, o universo, posto de modo ordenado, organizado e harmônico.


Dizem, por conta disso, que a filosofia é a mãe de todas as ciências. Essa afirmação não é, vista por esse ângulo, falsa. Os primeiros filósofos gregos propunham um modo de se observar e analisar a natureza tal que ela pudesse ser explicada pela razão, e não recorrendo a mitos religiosos. Esse modo de encarar o mundo foi fundamental no desenvolvimento de todas as ciências. As primeiras perguntas filosóficas eram, aos olhos de hoje, perguntas que misturavam filosofia e ciência. A primeira ciência a se desvencilhar da filosofia foi a matemática (a entendendo como uma ciência "pura"), posteriormente foi a física. Nos tempos modernos temos o exemplo da química, da biologia e, por fim, a psicologia. No início, lá na Grécia Antiga, essas áreas eram todas misturadas. Mas, o que toda ciência deve à filosofia foi o modo como ela nos permitiu encarar a natureza.

Primeiros Filósofos Ocidentais

A história da filosofia grega é dividida em duas partes, tendo como ponto central a figura do filósofo Sócrates. Tamanha é a importância de Sócrates para a história da filosofia que os filósofos anteriores a ele são atualmente chamados de "pré-socráticos". A frente veremos o porquê Sócrates é tão fundamental para a história da filosofia. Mas, por hora, vamos tratar apenas de alguns filósofos pré-socráticos.
Aristóteles, que além de um dos maiores filósofos gregos, foi também um dos maiores cientistas que a humanidade já produziu. Seus trabalhos se estendem para o desenvolvimento da Lógica, da Física, da taxionomia biológica e, além disso tudo, foi um dos primeiros historiadores da filosofia. Muito do que será falado acerca dos primeiros filósofos sobreviveram ao tempo por conta de Aristóteles. Esses filósofos fizeram obras que se perderam na história, mas com os trabalhos de Aristóteles para apresentar e comentá-los nós temos material para entendê-los. Em seus trabalhos de análise sobre os filósofos anteriores, Aristóteles basicamente entendia que a filosofia tratava de investigação sobre as causas das coisas. Haveria para ele quatro tipos diferentes de causas:
  1. Causa material.
  2. Causa eficiente.
  3. Causa formal.
  4. Causa final.
Para entendermos essas quatro causas, a grosso modo, podemos recorrer a um exemplo. Pense que sua avó quer fazer um bolo para o café da tarde. A primeira coisa que ela faz é reunir os ingredientes. Esses ingredientes são a causa material do bolo. Sua avó, cozinheira de mão cheia, é aquela que de modo divino irá misturar e preparar com eficiência o bolo. Ela, desse modo, é a causa eficiente desse bolo. No entanto, sua avó já não tem uma boa memória (sabe como é a idade, né?), de modo que ela recorre ao velho caderno de receitas. A receita seria, então, a causa formal do bolo. Enfim o bolo já está cheirando no forno, mas para que ele servirá? Bom, esse bolo é para saciar sua fome na hora do café da tarde. Saciar a fome, desse modo, é a causa final do bolo. A existência desse bolo então tem como causa material os ingredientes, como causa eficiente a sua avó, a causa formal a receita, ou o modo como deve ser preparado e, por fim, a causa final, ou a finalidade de saciar a fome.

Aristóteles, filósofo e cientista grego, 
um dos primeiros historiadores da filosofia.
De acordo com a análise de Aristóteles os primeiros filósofos tentavam analisar a natureza de modo a ordená-la em princípios básicos. Esses princípios, por sua vez, recorriam a uma dessas quatro causas. Uns ofereciam como resposta ao problema de entendermos a estrutura fundamental do universo uma causa material, ou seja, apelavam para qual material o universo era formado. Outros, por sua vez, respondiam esse problema respondendo quem era a causa eficiente, quem ordenou o universo. Alguns ainda respondiam esse problema apelando para forma que o universo se estruturava, oferecendo uma causa formal. E, por fim, Aristóteles propôs uma análise teleológica do universo, explicando a finalidade dele, ou seja, uma causa final. Vejamos brevemente o que os principais filósofos do período pré-socrático propuseram e teorizaram. E, se possível, vejamos como essa análise de Aristóteles pode ser aplicada.


Teleologia, do grego, significa estudo das finalidades, do propósito ou mesmo dos objetivos de algo.


Tales

Tales de Mileto (c. 625-545) é conhecido como o pai fundador da filosofia grega. Mas, além dessas considerações, era também geômetra. É considerado o primeiro a descobrir o método de inscrever um triângulo-retângulo em um círculo; também de calcular a altura das pirâmides ao medir a sombra que projetavam no momento do dia em que a sua própria sombra era igual a sua altura; e usar a geometria na prática, provando que triângulos com um lado e dois ângulos iguais são congruentes e usando isso para determinar a distância de navios no mar. Ele era astrônomo e também meteorologista, dizem que previa eclipses, provou que um ano tinha 365 dias e identificar os dias dos solstício de verão - dia que o sol fica mais tempo visível no céu - e do inverno - dia que o sol fica menos tempo visível no céu. Não sabemos até que ponto essas e outras histórias são verdadeiras, mas se ele fez metade do que se conta, ele era um homem extraordinário. Infelizmente nos restam apenas dois ditos desse filósofo. Esses ditos misturam ciência e religião, o que mostra quanto a filosofia em sua gênese era, ainda, influenciada pelo misticismo.
"Todas as coisas estão cheias de deuses"
"A água é o princípio único de tudo"
Tales de Mileto
A filosofia de Tales, mesmo na antiguidade, era de difícil acesso. Não era fácil entender porque Tales adotou a água como princípio do universo. De acordo com ele a terra repousava sobre a água, tal como um pedaço de madeira flutuando na correnteza. Todavia, podemos perguntar: sobre o que a água repousa? Tales vai além e afirma que tudo, de algum modo, veio da água e, de alguma maneira, é feito de água. Aristóteles, ao analisar a teoria de Tales, supôs que tal afirmação era em virtude da necessidade dos seres vivos para com a água. No entanto, podemos perceber que Tales era obscuro e ainda influenciado por misticismos. Isso, de forma alguma, diminui sua importância na história da filosofia. Oferecer um princípio tal que não era reduzido aos mitos religiosos de sua época, tentando fundamentar sua teoria apelando para a razão (ainda que com influência místicas), foi revolucionário. A filosofia, e até mesmo a ciência, deve muito a ele.

Anaximandro
Anaximandro representado em um 
mosaico romano com seu relógio solar.
Anaximandro de Mileto (c. ???-547 a.C.), também considerado um dos precursores da filosofia, também era um homem com mil facetas. Credita-se a ele o primeiro mapa-múndi, a primeira carta celeste e até mesmo o primeiro relógio de sol grego. Ele defendia que a terra tinha uma forma cilíndrica, como uma coluna com altura três vezes maior que sua largura. Ao redor do mundo havia tubos gigantes com fogo, e neles havia buracos por onde se enxergava o fogo a partir do exterior. Esses buracos seriam o sol, a lua e as estrelas. As obstruções dos buracos eram os eclipses do sol e as fases da lua. Diferente de Tales, sabemos mais a respeito de Anaximandro em virtude dele ter deixado um livro intitulado Sobre a Natureza. Sua teoria cosmológica, diferente de Tales, é mais elaborada. Ele não procura por algo que sustente a terra, pois devido à sua equidistância de tudo o mais ela permanece onde está não havendo forças ou razões que a façam se mover.
Anaximandro, em sua teoria filosófica, julgava ser um erro entender que a realidade era forjada, ou seja, que tinha uma causa material através de qualquer um dos elementos que podemos ver ao nosso redor. Assim, afirmava ele, que o princípio fundamental das coisas deveria ser algo ilimitado, indefinido, ou como o termo usado por ele no grego, deveria ser apeíron.

Apeíron, do grego, pode ser entendido como aquilo que não tem começo ou fim no tempo, tampouco pertencia a alguma classe de coisas particulares. Uma paráfrase próxima da ideia que Anaximandro tinha acerca do apeíron seria "matéria eterna".


Além da matéria prima do universo - o Apeíron - que seria a causa material, Anaximandro oferece uma abordagem sobre a causa eficiente. De acordo com sua teoria, o universo era um campo de forças contrárias em competição tal que trouxeram o mundo à existência. Essas forças opostas manteriam um princípio de reciprocidade, no qual hora um sobrepujava o outro, e hora havia uma inversão de papéis.

Anaxímenes
Anaxímenes de Mileto (c. 588-524 a.C.), 
o último filósofo do trio de 
cosmólogos de Mileto.
Anaxímenes de Mileto, que teve seus trabalhos mais fluentes por volta de 546-525 a.C., era mais novo que Anaximandro e, ainda assim, mais próximo do pensamento de Tales. Ele é o terceiro e último grande cosmólogo de Mileto, e como Tales ele defendia que a terra deveria repousar sobre algo. No entanto, diferente de Tales, o elemento primordial era o ar, e não a água. E a terra e os corpos celestes tinham forma plana. Esses últimos circulavam horizontalmente em volta da terra. O ar, em estado estável, seria invisível. Mas, de acordo com Anaxímenes, quando há movimento ele se condensa e primeiro se torna vento, em seguida nuvem, depois água e, por fim, a água condensada se torna lama e pedra. O ar rarefeito, por sua vez, tornava-se fogo. Assim, apenas com a noção de condensação e rarefação, Anaxímenes tentava explicar como tudo surgiu. Para dar suporte as suas afirmações, Anaxímenes recorre a uma pequena experiência que você pode fazer aí. Primeiro, sopre sua mão com os lábio cerrados, depois sopre sua mão com a boca aberta (se alguém estiver vendo, finja que está fazendo algo natural). Da primeira vez o ar será frio, da segunda o ar será quente. Segundo o argumento de Anaxímenes, isso demostra que há uma conexão entre a densidade e a temperatura.
Podemos ver que havia em Anaxímenes, com essas tentativas de experimentos para justificar racionalmente suas teorias, uma protociência. Ele era, potencialmente, um cientista. Esse experimento pode nos parecer um pouco infantil, mas devemos pensar que eles viviam em um período onde não havia tecnologia científica para fazer experimentos. Eles ao menos tentaram justificar racionalmente suas crenças usando daquilo que tinham em mãos, sem recorrer para sistemas religiosos ou mitos amplamente aceitos na sociedade em que viviam.

Pitágoras
Pitágoras de Samos, 
filósofo e matemático 
grego nascido na ilha de Samos.
Tanto Pitágoras de Samos (c. 570-496 a.C.) como Tales dividiram as honras de introduzir a filosofia na Grécia antiga. Além de filósofo, Pitágoras também foi um exímio matemático. Você deve lembrar do Teorema de Pitágoras. Na cidade de Crotona, Pitágoras fundou uma comunidade semi-religiosa, que durou até 450 a.C., ou seja, posterior a sua morte. É atribuído a ele a invenção do termo "filósofo". Conta-se que uma certa vez, em vez de se declarar como sábio (sophos), Pitágoras teria dito com modéstia que era apenas um amante da filosofia (philosophos).

As teorias propostas por Pitágoras envolviam matemática e misticismo, algo que influenciou o pensamento grego durante quase toda antiguidade. Os "pitagóricos", como eram chamados aqueles que seguiam Pitágoras, haviam descoberto uma relação entre intervalos musicais e razões numéricas. Tal descoberta os levou a acreditar que havia uma estrutura subjacente na natureza, estrutura essa matemática, que seria a peça-chave para entendermos o Cosmos e toda a sua organização. Como dito por Platão, para eles a astronomia e a harmonia eram ciências irmãs, uma para os olhos e outra para os ouvidos. Tal tentativa de explicar a natureza por causas formais, analisando a estrutura matemática do mundo, foi feita dois mil anos antes de Galileu. Esse cientista do renascimento foi um dos que apresentaram boas razões para aceitarmos que, em certo sentido, "o livro do universo está escrito em números".

Xenófanes

A descoberta dos fósseis deve-se a Xenófanes.
Mileto havia sido destruída e a morte de Pitágoras, por volta de 494 a.C., marcaram o final do primeiro período do pensamento pré-socrático. O próximo nome digno de nota foi Xenófanes (c. 570-470 a.C.), um cara que viveu muito para época. Esse filósofo de longa vida também propôs uma cosmologia, todavia, o elemento primordial do universo era a terra. De acordo com ele, a terra vai dos nossos pés ao infinito. Uma famosa frase de Xenófanes é que "tudo vem a terra e na terra tudo terminará". Se você for católico, ou viveu em algum ambiente católico, já deve ter ouvido uma frase parecida na quarta-feira de cinzas: "recorda-te que és pó e ao pó tornarás". Em alguns momentos Xenófanes une a água com a terra como material primordial para a criação da terra. Tal união se deve para uma das mais importantes descobertas científicas feitas por ele, a existência de fósseis. Ao encontrar conchas marinhas em terrenos distantes do continente ele conjecturou a hipótese de que a terra, outrora, foi coberta pelo mar.
Sua teoria cosmológica, por outro lado, deixa muito a desejar. Como a terra se prolongava ao infinito, o Sol não poderia descer a terra para fazer o movimento de nascer e pôr. Para solucionar esse problema, Xenófanes defendia que cada dia tínhamos um novo Sol. Concluía com isso que existiam inúmeros sóis, e a impressão do movimento circular se dava apenas pela longa distância que esses sóis passavam. Outras teorias científicas imputadas à Xenófanes, por outro lado, podem parecer impressionante haja vista o naturalismo adotado por ele.

Heráclito
Heráclito de Éfeso, que provavelmente era 30 anos mais novo que Xenófanes, foi um dos filósofos que mais obras chegaram até a posteridade. No entanto, na própria antiguidade ele era apelidado de "o Enigmático" e "Heráclito, o Obscuro", que dá bons indícios sobre a dificuldade de entendermos sua obra.

Heráclito de Éfeso, o Enigmático ou o Obscuro.
Tal como Xenófanes, Heráclito também acreditava que todo dia um novo Sol aparecia no céu, e como Anaximandro ele afirmava que o Sol era constrangido por um princípio cósmico. Essas teorias se desenvolveram com Heráclito para uma doutrina do fluxo universal: Tudo, afirmava ele, está em movimento, nada permanece imóvel; o cosmos é como uma correnteza. Como diz o famoso exemplo que visa representar a teoria heraclítica, se entrarmos duas vezes em um mesmo rio, não poderemos pôr nossos pés duas vezes na mesma água, dado que a água não será a mesma nesses dois momentos. Mas, além disso, não poderíamos pisar duas vezes no mesmo rio. Essa segunda passagem não parece fazer sentido, mas isso se entendermos que o que identifica um rio é seu curso. Caso entendamos que um rio é identificado pelo seu conteúdo, então o rio estaria em um constante movimento. Esse exemplo é uma alegoria para afirmar que a realidade é uma constante mudança.
Qual seria então a causa material da realidade para Heráclito? O fogo, que seria uma corrente fluida, um modelo de mudança constante, consumindo-se e revigorando-se. O que governa esse mundo em constante mudança, ou seja, a causa eficiente? O Logos, a razão e ordem necessária para manter o equilíbrio em um mundo de mudanças. O cosmos seria, então, uma constante mudança, resultado de uma luta entre forças naturais opostas, estruturados pelo Logos.

Parmênides

Parmênides de Eléia (c. 530-460 a.C.), foi o patrono da escola italiana de filosofia. Em oposição à Heráclito, Parmênides defendia que o universo é estático, não estava em constante movimento, e que o mundo como observamos é uma ilusão, apenas uma aparência. Grande parte de seu trabalho foi perdido com o tempo - apenas 120 linhas de um de seus diversos poemas, nos quais ele apresentava sua teoria, chagaram até nós.
Parmênides de Eléia, 
patrono da escola italiana de filosofia.
Parmênides é considerado o criador da área da filosofia chamada "Ontologia", uma das sub-áreas da Metafísica. Esta área seria um estudo sobre o Ser, isto é, sobre a existência e inexistência dos objetos. Tudo o que existe e pode ser pensado é, de acordo com a teoria de Parmênides, o Ser. Esse Ser é indivisível, não possui começo ou fim e, além disso, não é sujeito ao tempo. Podemos criar um exemplo metafórico para explicar a tese de Parmênides e, com esse exemplo, contrastá-la com a tese de Heráclito. Pense em um pouco de água sendo fervida em uma chaleira até que toda a água seja evaporada. De acordo com tese de Heráclito, aplicado nesse exemplo, poderíamos dizer que houve diversas mudanças substanciais no Ser que compõe a água, tornando-o não-ser. Isto é, esse processo representa a morte da água, passando da existência para a não-existência. Contudo, Parmênides rejeita essa tese, afirmando que essa "morte" da água é apenas aparência, uma mera ilusão. A água não foi perdida ou transformou-se em não-ser. Essa mudança é apenas uma alteração no próprio Ser. Ela não deixou de existir, ela só mudou. Parmênides vai além, afirmando que essa própria mudança no Ser é uma ilusão. Na verdade não há mudanças, pois o Ser é eternamente o mesmo e o próprio tempo, o passado, o presente e o futuro são uma e a mesma coisa.
Zenão de Eléia, discípulo de Parmênides, produziu célebres argumentos a favor da tese de seu mestre. Um dos mais famosos e interessante é o chamado "Paradoxo de Zenão", e é expresso por duas simples frases:
"Não há movimento, pois qualquer coisa que se mova tem de chegar à metade de seu percurso antes de chegar a seu fim"
"O lerdo jamais será ultrapassado pelo ágil, pois o perseguidor deve chegar ao ponto de onde o fugitivo partiu, de forma que o lerdo deve necessariamente permanecer à frente"
Zenão de Eléia
O argumento que se criou com essas frases, o paradoxo de Zenão, pode ser apresentado da seguinte forma. Imagine que gostaríamos de atirar uma flecha em um alvo, a uns 10 metros de distância. Para essa flecha atingir o alvo ela deverá percorrer a metade do percurso, ou seja, 5 metros. Depois disso ela deverá percorrer a próxima metade do percurso, 2 metros e meio. Novamente ela deverá percorrer a metade do caminho, 1 metro e 25 centímetros. Eis que mais uma vez ela deverá percorrer a metade desse caminho, e do próximo, e do próximo, e assim em diante, até o infinito. A flecha, sendo um corpo finito e com capacidade de percorrer distâncias finitas, jamais seria capaz de percorrer todo o infinito percurso. Todavia, nós observamos a flecha percorrer todo o percurso. Deste modo, se a matemática está correta em afirmar que podemos dividir infinitamente os números, a realidade é uma ilusão. Ou seja, estamos no dilema de aceitar a matemática como correta e a realidade como mera ilusão, ou que a matemática é falha e devemos dar suporte as evidências do mundo. Como não temos fortes indícios para supor que a matemática é falha, só pode ser o caso do mundo ser uma ilusão, uma mera aparência.
Esse paradoxo de Zenão colocou um problema tanto para os matemáticos como para os filósofos. Os filósofos se preocupavam em justificar como a realidade não era uma mera aparência, e os matemáticos deveriam dar uma explicação de como uma flecha consegue percorrer todo esse percurso sem que isso incorresse no problema apresentado pelo paradoxo. A solução para isso só apareceu a mais de mil anos depois de Parmênides e Zenão, com o Sir Isaac Newton e Gottfried Leibniz, através do Cálculo Diferencial e Integral.

Empédocles

Empédocles (c. 495/90-435/30 a.C.), nascido na cidade de Acragas, atual Agrigento, é outro filósofo da Itália grega. Além de filósofo, Empédocles colecionava profissões. Era médico, legislador, poeta, professor, mítico e profeta. Infelizmente, grande parte da obra desse filósofo foi perdida, mas ainda nos resta alguns fragmentos. A sua tese filosófica pode ser encarada como uma síntese de alguns filósofos anteriores. Enquanto alguns dos filósofos pré-socráticos, anteriores a Empédocles, escolhiam certas substâncias como princípio básico ou dominante no cosmos, para Empédocles todas as quatro substâncias eram essenciais e igualmente dispostas. Os quatro elementos eram como ingredientes fundamentais, "raízes" do Cosmos, e eles sempre existiram. Estas substâncias se misturavam de formas e proporções variadas, produzindo assim o mundo tal como conhecemos. Conforme ele diz em um trecho de um dos seus poemas:

"Desses quatro saiu tudo o que foi, é e sempre será:
Árvores, animais e seres humanos, machos e fêmeas todos,
Pássaros do ar e peixes gerados pela água brilhante;
Os envelhecidos deuses também, de há muito louvados nas alturas.
Estes quatro são tudo o que há, cada um se entranhando no outro
E, ao misturar-se, variedade ao mundo dando."
Empédocles

Filósofos e cientistas atribuíram à Empédocles o quarteto de elementos primordiais que, até naquela época, era essencial para a física e para a química - isso até o desenvolvimento da química moderna, com o químico do século XVII, Robert Boyle. Para Empédocles, o que movia o desenvolvimento e a mistura desses elementos, transformando a matéria e criando a vida, eram duas forças, nomeadamente, o Amor e o Ódio. O amor unia os elementos, e o Ódio os separava.
Para explicar a origem das espécies vivas, Empédocles propôs uma interessante teoria da evolução a partir da sobrevivência dos mais aptos. De acordo com a interessante, mas bizarra teoria da evolução dele, no começo surgiram a carne e os ossos através da combinação dos elementos. A partir deles foram se formando os membros e órgãos do corpo, no entanto eles não estavam unidos. Olhos fora das cavidades oculares, braços sem ombros e rostos sem pescoços. Esses órgãos vagaram durante o tempo até encontrar pares ao acaso, fazendo diversas uniões que, no início, foram inadequadas. Eis que monstros apareceram: homens com cabeça de outros animais, animais com membros humanos, etc. A maioria desses organismos eram frágeis ou estéreis, e somente os mais aptos, com uma estrutura melhor formada, foram capazes de sobreviver e se perpetuar. Ainda que essa teoria da evolução seja absurda a nossos olhos, a ideia de sobrevivência dos mais aptos desenvolvida por Empédocles é, de modo ingênuo, a mesma que o biólogo Charles Darwin utilizou.
Anaxágoras (c. 500-428 a.C.), nascido em Clazômenas, foi outro filósofo pré-socrático que é atribuida alguma teoria da ciência contemporânea. Enquanto que Empédocles é considerado o precursor da teoria darwiniana, Anaxágoras é considerado o precursor da teoria do Big Bang. De acordo com sua tese cosmológica, no início todas as coisas estavam juntas, e infinitas em quantidade e pequenez.
"Todas as coisas estavam juntas, infinitas em quantidade e infinitas em pequenez; pois o pequeno era também o infinito. E, estando todas as coisas juntas, nenhuma era reconhecível por sua pequenez. Tudo se situava entre ar e éter, ambos infinitos"
Anaxágoras
No entanto, em algum momento, essa partícula fundamental começou a girar e expulsou o éter e ar circundantes, formando a partir deles os corpos celestes, as estrelas, o sol e a lua. Essa rotação gerou a separação do denso e do raro, do calor e do frio, do seco e do molhado e do claro e do escuro. Essa separação, contudo, nunca se completou. O universo continuaria em expansão e essas separações continuam a acontecer e irão continuar para sempre. Com essa teoria, antecipando Giordano Bruno, Anaxágoras propôs que o nosso cosmos é apenas um entre muitos. Mas o que gerou e pôs em curso o desenvolvimento do universo? Anaxágoras responde que é a Mente.
"Todas as coisas estavam juntas; então veio a Mente e lhes deu ordem"
Anaxágoras
Essa mente seria infinita e separada, não fazendo parte na composição inicial dos elementos, pois se fizesse parte ela teria passado por esse processo evolutivo, seria sujeita as mudanças ocorridas. A Mente, nesse caso, tomava um lugar essencial, com uma natureza mística - quase divina. Uma outra tese interessante defendida por Anaxágoras era que o Sol tinha como natureza ser uma massa de metal incandescente, maior que o Peloponeso.

Atomistas

Demócrito de Abdera, 
filósofo atomista do
 período pré-socrático
O atomismo foi uma escola filosófica pré-socrática amplamente difundida por Demócrito de Abdera (c. 460-370 a.C.) e seu mentor, Leucipo de Mileto, que viveu na primeira metade do século V a.C. Sobre Leucipo soubemos pouco, podendo ser ele o verdadeiro criador do atomismo. No entanto, é com as obras de Demócrito que conhecemos essa escola filosófica.
A última, e uma das mais impressionantes antecipações da ciência moderna na era pré-socrática foi proposta pelo atomismo. A tese fundamental do atomismo, tal como apresentada por Demócrito, é que a matéria não era infinitamente divisível. Não sabemos qual era o argumento usado por Demócrito para defender tal tese, mas Aristóteles conjecturou que seria algo do seguinte tipo. Se tomarmos uma quantidade de matéria, seja de qual tipo que for, e fizermos o papel de ir dividindo-a em pequenos pedaços, o máximo possível, seremos obrigados a parar em algum ponto, em minúsculos corpos de matéria que são indivisíveis. Ou seja, iremos parar no que ele chamava de "átomos".

Átomos, do grego, significa indivisível ou não-divisível.


Se supormos que a matéria é infinitamente divisível, o que aconteceria se prosseguíssemos na divisão? Se qualquer uma dessas infinitas quantidades de partes tiver qualquer grandeza, então irá se seguir que ela deverá ainda ser divisível. Mas, se por outro lado, as partes restantes não tiverem grandeza, então elas não poderiam ser juntadas em qualquer quantidade, pois zero multiplicado por infinito continua sendo zero. Devemos concluir, acreditava Demócrito, que a divisibilidade da matéria chega a um fim. Esses fragmentos indivisíveis são os átomos.
Nós não podemos observar os átomos diretamente, pois eles não seriam detectados pelos nosso sentidos. Esses átomos eram infinitos em quantidades e aparecem em infinitas variedades, tendo existido desde sempre. Além disso, Demócrito também aceitava a existência do vácuo. No início, acreditava Demócrito, tudo era vácuo e átomos. Esses átomos apareceriam em formas, ordens e posições diferentes. Os objetos foram se formando pela colisão e aglutinação randômica dos átomos. Com o atomismo, Demócrito esperava explicar a existência de todo o universo e aquilo que existia. Outra tese defendida por Demócrito, à semelhança de Anaxágoras, era a existência de uma pluralidade de mundos, de diversas formas e composições. O atomismo foi, sem dúvida, uma teoria extremamente interessante a luz do que a ciência moderna nos apresenta.

Sofistas

Os sofistas não podem ser considerados filósofos, mas também não podemos desconsidera-los na história da filosofia. Os sofistas podem ser encarados com profissionais da retórica, especializados nos mais diversos assuntos: de filosofia a matemática, da música a astronomia, de história a literatura e mitologia. Eles eram contratados como professores e ensinavam o que era solicitado. Eles praticavam, muitas vezes, da advocacia. Alguns desses sofistas ficaram famosos, como é o caso e Protágoras, que dizia ser capaz de poder transformar o pior argumento no melhor. Uma das interpretações dessa afirmação de Protágoras era que ele seria capaz de fazer o errado parecer certo, como avaliava Aristófanes e Aristóteles.
Uma história interessante sobre Protágoras teria acontecido quando um discípulo seu, Evalto, teria se recusado a pagar seu mestre por alegar não conseguir vencer nenhuma das causas. Teria dito Protágoras: "Bem, se eu vencer esta causa, você deverá me pagar em razão de o veredito ter sido em meu favor; mas, se você vencer essa causa, ainda assim terá de me pagar, pois enfim você venceu uma causa."
Os sofistas foram considerados inimigos da filosofia, principalmente pelo combate aos sofistas que aparecem nos diálogos de Platão. Os filósofos tinham aversão aos sofistas por considerá-los inimigos da verdade. Eles não estariam, conforme pensava Sócrates e os filósofos daquele período, preocupados em encontrar a verdade e procurarem ser corretos; mas se preocupavam apenas na quantia que iriam receber, seja defendendo um lado ou outro, ou seja, seja defendendo a verdade ou o erro e a falsidade. Assim, acreditavam os filósofos, eles privilegiavam o status social e o dinheiro em detrimento da verdade.
Se o julgamento dos filósofos daquele período é correto ou não, isso é até hoje debatido. No entanto, os sofistas desempenharam um grande papel na história da filosofia. Muitos argumentos que apoiavam o relativismo (como a famosa frase de protágoras: "o homem é a medida de todas as coisas, das coisa que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são"), ou que punham em destaque certos conceitos filosóficos, foram apresentados por eles. Muitas vezes a motivação de certas discussões que filósofos davam atenção foram propostos pelos sofistas. Seja como for, sejam os sofistas vilões ou mocinhos, eles foram importantes na história da filosofia.

Por fim...

Os filósofos pré-socráticos podem nos parecer obscuros e místicos aos nossos olhos, mas não devemos retirar a importância e contribuição que eles tiveram em todo o desenvolvimento do pensamento humano. Com eles tivemos a gênese não só da filosofia, mas de várias ciências. Cada um à sua maneira eles tentaram, através da razão, explicar como se comportava o universo, o cosmos.

Segue abaixo um pequeno resumo com as ideias gerais:
Tales: Tudo é água;
Anaximandro: Tudo é matéria eterna (apeíron);
Anaxímenes: Tudo é ar;
Pitágoras: Tudo é uma harmonia numérica;
Xenófanes: Tudo é terra;
Heráclito: Tudo é fogo, é movimento;
Parmênides: Tudo é um Ser indivisível e imóvel;
Empédocles: Tudo é porção de água, ar, fogo e terra,
reunidos conforme o Amor e o Ódio;
Anaxágoras: Tudo foi e é criado pela ação da Mente
sobre os elementos fundamentais do cosmos;
Atomismo: Tudo é matéria indivisível [átomos].

Fonte: Universo Racionalista